Por que famílias ricas brasileiras estão transferindo US$ 1,5 bi para Dubai

famílias ricas brasileiras indo para dubai

Nos últimos anos, um número crescente de famílias ricas brasileiras tem canalizado parte de suas fortunas para os Emirados Árabes Unidos, mais especificamente para Dubai.

Segundo dados da consultoria MH/Q, especializada em atendimento a famílias de grande riqueza, cerca de US$ 1,5 bilhão foram estruturados por brasileiros no centro financeiro de Dubai.

Esse valor representa um salto de 66,6% em relação ao ano anterior — quando era de US$ 900 milhões.

Um movimento de migração patrimonial de famílias ricas brasileiras

Em 2024, apenas 18 famílias brasileiras estavam nessa rota; hoje, esse número subiu para 30.

Para explicar esse fenômeno, a advogada Kath Zagatti, líder de private wealth na MH/Q, destaca uma mudança de jurisdição: “eles estão saindo de países mais tradicionais, como a Suíça, para jurisdições mais modernas, como os Emirados”, afirma em relação à estruturação de patrimônio.

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Por que Dubai atrai os ultra-ricos

A cidade não é apenas um destino turístico: seu centro financeiro, o Dubai International Financial Centre (DIFC), é uma potência.

Lá, há 120 family offices registrados, responsáveis pela administração de algo como US$ 1,2 trilhão. Esses family offices, bem como outras entidades patrimoniais como fundações e fundos de hedge, cresceram consideravelmente nos últimos anos.

Alguns dos motivos que explicam essa migração incluem:

  1. Estrutura legal moderna — Dubai oferece regulação sofisticada para family offices, fundações e outras estruturas voltadas à preservação de patrimônio.
  2. Vantagens fiscais — Ausência de imposto de renda para pessoa física e sem tributação sobre herança são atrativos importantes.
  3. Segurança e qualidade de vida — A cidade é vista como segura e bem estruturada, com infraestrutura global e estabilidade que agrada a famílias ricas.
  4. Proteção patrimonial — Estruturas como trusts, family offices regulados e fundações permitem uma gestão eficiente e organizada da riqueza familiar.

Além disso, muitos desses investidores aplicam seus recursos no mercado imobiliário de Dubai.

Investir em imóveis permite, por exemplo, obter o Golden Visa, visto de residência que exige aportes a partir de 2 milhões de dirhams (o equivalente a cerca de US$ 500 mil).

Quem são esses investidores e famílias ricas brasileiras?

O perfil de famílias brasileiras que migram capital para Dubai tem mudado.

Inicialmente, o movimento era dominado por herdeiros milionários, mas agora há muitos empresários de médio porte — com fortunas entre US$ 20 milhões e US$ 80 milhões — atraídos pelos mesmos incentivos regulatórios e de residência.

Nem tudo são flores: os riscos a considerar

Apesar dos benefícios, montar um escritório familiar (family office) em Dubai não é simples nem isento de riscos. Especialistas alertam para alguns pontos:

  • Comprometimento de longo prazo: Um alerta feito por Ana Claudia Utumi, advogada tributarista, é que alguns contratos exigem que os recursos estruturados permaneçam retidos por muitos anos. Há casos em que investidores descobriram só depois da assinatura que seu capital ficaria “preso” por até 10 anos.
  • Regulação islâmica: A lei islâmica (Sharia) limita a cobrança de juros em alguns produtos. Isso significa que instrumentos tradicionais de renda fixa podem não existir ou funcionam de forma diferente — como os sukuks (títulos islâmicos), que remuneram por participação nos lucros e não por juros fixos.
  • Resolução de disputas: Contratos podem prever que conflitos judiciais sejam resolvidos por autoridades locais, e não por um sistema jurídico convencional, algo que demanda atenção legal cuidadosa.
  • Intermediários não regulamentados: O boom de investidores e imobiliários tem atraído agentes sem licença, aumentando o risco de golpes ou má gestão.
  • Adaptação cultural: Há desafios próprios de viver em Dubai, como o clima extremamente quente, e a necessidade de adaptação a regras culturais — por exemplo, durante o Ramadã.

Conclusão

A migração de fortunas brasileiras para Dubai não parece ser uma simples moda passageira. O movimento reflete uma estratégia patrimonial sofisticada, que combina segurança legal, estrutura regulatória moderna, benefícios fiscais e proteção de patrimônio.

Para muitos, Dubai funciona como parte fundamental de um plano global de diversificação, legado e sucessão familiar.

No entanto, essa transição exige planejamento rigoroso, assessoria especializada e uma visão de longo prazo: nem todas as famílias têm o perfil ideal para usufruir de todos os benefícios sem enfrentar riscos relevantes.

Fonte: Forbes Brasil.

Leandro Gomes é produtor de conteúdo, estudante de economia e criador de sites sobre negócios e finanças, tecnologia e gastronomia.

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